domingo, 12 de outubro de 2008

Entrevista com Murilo Rosa







O momento não poderia ser melhor para o ator Murilo Rosa. Depois de protagonizar a novela Desejo Proibido, na Rede Globo, e curtir as delícias do primeiro ano de vida do filho Lucas, o brasiliense de 38 anos se vê agora realizando mais um sonho. No momento, ele viaja pelo País promovendo seu mais novo filme, Orquestra dos Meninos. Mesmo já tendo atuado em outros longas, o ator considera essa a sua estréia no cinema. "Sempre tive o sonho de fazer um filme como esse. É uma história real que tem toda a estrutura de um grande filme", diz em entrevista ao O POVO.

No início da semana, o ator esteve em Fortaleza para a pré-estréia do filme que chega às salas no dia 7 de novembro. O longa-metragem do diretor Paulo Thiago é inspirado na história real do maestro Mozart Vieira, que dedica a vida a formar jovens músicos no Agreste pernambucano. Murilo Rosa vive o personagem no cinema. A experiência foi tão positiva que ele recusou um papel na próxima novela das oito para se dedicar mais à sétima arte.

Reservado, o ator se esquiva de perguntas mais pessoais e afirma fugir de locais badalados para evitar a exposição. No entanto, isso não o impede de reafirmar o valor da família na sua vida. Ele também declara o seu amor ao Brasil e pensa em realizar projetos no exterior para ficar mais próximo da esposa, a modelo Fernanda Tavares. O ator admitiu ainda curtir o programa CQC, da Band e elogiou a dramaturgia da Rede Globo, emissora na qual tem contrato até 2012.

OP - Em entrevistas anteriores, você chegou a dizer que a sua carreira no cinema começa com o filme Orquestra dos Meninos. Por quê? Que impacto o personagem de Mozart teve no seu trabalho?
Murilo Rosa - Sempre tive o sonho de fazer um filme como esse. Quando você é ator, você estabelece metas para si. Acho que nesse mesmo ano aconteceram duas coisas que sempre quis. Uma foi fazer o protagonista de uma novela linda, que foi Desejo Proibido. Amei fazer. Fiquei muito feliz. Coincidentemente, vem também o lançamento desse filme. É uma história real que tem toda a estrutura de um grande filme. Por causa disso, decidi que quero fazer mais cinema.

OP - Inclusive você rejeitou recentemente o convite para viver um personagem na nova novela das oito, Caminho das Índias. O motivo é esse mesmo?
Rosa - É, eu fui convidado, mas se aceitasse eu não poderia fazer o que estou fazendo. Estou atualmente lançando esse filme e lendo quatro roteiros de cinema. Um que vou fazer com certeza é um projeto chamado No Olho da Rua. É a história de um trabalhador que mora na periferia e tenta ser honesto, mas vê que não dá para ser tão honesto assim. A televisão já me dá a popularidade. No cinema, quero fazer trabalhos mais artísticos.

OP - E o que o cinema te oferece que a TV não oferece?
Rosa - É exatamente o tipo de mergulho que tive em Orquestra dos Meninos. O cinema me dá esse novo caminho. É um filme não muito pretensioso, mas com história muito bonita. Não tenho muita vontade de fazer no cinema uma comédia que faço já na TV. Quero projetos mais verdadeiros, mais brasileiros. Tenho até projeto de produzir filmes. Acho que agora é o momento de pegar uma fatia desse bolo.

OP - O personagem Mozart é meio "pai" daqueles meninos. Ter vivido esse personagem te trouxe algo na relação com seu próprio filho, Lucas?
Rosa - Na verdade, eu filmei antes do Lucas ter nascido (no fim de 2006), mas eu sempre tive uma ligação muito forte com criança. Minha irmã tem quatro filhos e eu sou padrinho dos quatro. Acho que isso já fazia parte da minha vida.

OP - Ouvi que esse filme te abriu portas para trabalhos no exterior. A sua esposa, Fernanda Tavares, tem um trânsito internacional muito forte por conta da carreira de modelo. Por que não topar isso agora para acompanhar o ritmo dela?
Rosa - Você estabelece objetivos na vida. Se eu quisesse ter ido para lá, eu já teria ido há muito tempo. A gente vive em um País maravilhoso, com uma dramaturgia também maravilhosa, com um cinema em ascensão. Pra quê sair do meu País? Por conta da profissão da Fernanda, talvez eu até tenha algo fixo nesse eixo Rio-Nova York. São coisas que podem acontecer, mas acho que a melhor forma de vender o seu trabalho é ser alguém no seu País.

OP - Que papel você considera ter sido definitivo na sua carreira?
Rosa - É difícil escolher um. O Dinho de América mudou a minha carreira. De todos os personagens, ele foi o único contemporâneo, mesmo sendo rural. Todas as minhas outras novelas foram de época. Eu sou filho de uma historiadora, então deve ser por isso (risos). Com certeza, meu próximo papel vai ser um personagem natural, urbano, parecido comigo, mas se vier outro grande papel de época eu provavelmente não vou resistir.

OP - Você tinha uma carreira de esportista antes de virar ator. Existe um paralelo disso com o trabalho de ator?
Rosa - Sim. Ser ator também exige uma dedicação muito grande. Por natureza, o ator não precisa ser um intelectual, ele é um homem de ação. Tem que ter sensibilidade, emoção. Se ele é um cara inteligente, ele vai buscar se aprofundar. A primeira coisa que fiz quando cheguei ao Rio de Janeiro foi assinar todos os jornais e ler todos os livros que ainda não tinha lido para poder me aprofundar; depois, entrei numa escola de teatro. Acho que o ator é uma mistura de intuição, personalidade, carisma e de talento. Infelizmente a gente vive em um País em que talvez só 1% dos atores vivem bem da profissão.

OP - A Record abriu um mercado quando resolveu investir em dramaturgia e vários atores foram absorvidos. Você acha interessante a existência de um contraponto à Globo?
Rosa - Acho interessantíssimo. Até para a Rede Globo isso é saudável porque exige um esforço dela também. Só acho que você pode criar alternativas diferentes e não oferecer a mesma coisa. Foi o que a Band fez quando começou o CQC. É diferente. É legal. Acho que muitas coisas da Record são parecidas com outras já feitas. Isso está dando certo, mas seria bacana ter também uma fórmula diferente porque o que o espectador quer é ser surpreendido.

OP - Como você está se sentindo nesse momento da sua vida e para onde você acha que ela está se encaminhando?
Rosa - Acho que sempre estive no melhor momento da minha vida. É claro que agora eu estou no melhor dos melhores momentos, porque eu tive um filho e estou vivendo uma coisa muito linda na minha vida pessoal, mas acho que sempre tive orgulho da minha família. Tenho pais maravilhosos - inclusive, há três anos o meu pai é meu empresário. Sempre tive o maior incentivo deles. Hoje eu tento fazer tudo por eles porque sei que eles fizeram tudo por mim e é bom a gente lembrar disso enquanto pode estar presente. Profissionalmente, acho que estou estabelecendo novos sonhos. O grande desafio é saber o que tenho de fazer. Estou precisando agora de qualidade e não de quantidade.

OP - Você é uma pessoa reservada, mas a sua figura é pública. Como você lida com o assédio das ruas?
Rosa - Lido muito bem. Acho que sou uma pessoa bem resolvida em relação a isso. Minha defesa é o carinho. O ator não tem que ser uma pessoa arrogante e distante. Agora, você tem que ser reservado na sua vida. Tem coisas que você não pode fazer mais. O Rio de Janeiro é hoje um ninho de paparazzi. Eu sei onde eles estão. De vez em quando eles me pegam, mas geralmente isso não acontece porque eu fico na minha casa, no meu canto, não fico indo a estréia. Não tou nesse circuito. O importante pra mim é isso.

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