sábado, 9 de fevereiro de 2008

Entrevista com Murilo sobre a novela






Tentação liberada
 
Público torce para o personagem de Murilo Rosa abandonar a batina e se entregar ao amor

 
 
Gabriela Germano

Antes de Desejo proibido começar, muita gente achava que um padre apaixonado por uma mulher chocaria o público. De acordo com Murilo Rosa, intérprete do religioso Miguel na novela, não foi isso que aconteceu. "A maioria das pessoas quer que o personagem abandone definitivamente a batina para ficar com a Laura", confirma o ator. Nessa altura da trama, o padre já manifestou o desejo de se desligar da igreja, mas ainda não conseguiu.

Enquanto se preparou para o papel, Murilo visitou um mosteiro no Paraná, onde ficou enclausurado por três dias. O contato com os monges do lugar fez o ator, que é de uma família católica, respeitar mais as pessoas que se dedicam à religião. Ele critica aqueles que tentam pichar a instituição apoiando-se em episódios que classifica como isolados, entre eles, a Inquisição ou os escândalos com padres pedófilos. "Noventa por cento das pessoas desse meio são maravilhosas, cuidam de crianças doentes e defendem valores nobres", elogia.

Apesar de não fazer milagres com a audiência – Desejo proibido tem média de 21 pontos no Ibope –, a novela de Walther Negrão é elogiada pela crítica. "A história é redondinha, as cenas são lindas, estou muito feliz", empolga-se Murilo, que faz seu primeiro protagonista na emissora. Ele só não se mostra tão à vontade quando é questionado sobre o assédio das mulheres em relação a um padre bonitão. "As mulheres que adoram um desejo proibido fantasiam com o padre", diz, sem graça.                                           

PERGUNTA - Em Desejo proibido seu personagem aborda uma questão delicada, que é um padre se apaixonar. Você já foi chamado de pecador nas ruas?     

MURILO ROSA - Não. A emissora já fez uma pesquisa e 92% das pessoas consultadas querem que o padre Miguel abandone logo a batina e viva sua história de amor sem medo com a Laura. Quando alguém está em crise com sua vocação, é porque não tem mais aquela vocação. Já aconteceu uma cena em que ele confessava ao padre Inácio que o amor que sentia por Laura era maior do que a vocação. Ele quer continuar sendo um homem de Deus, mas vai fazer isso de outra forma. Não houve rejeição.  

P - E entre os religiosos? Você já recebeu a resposta de algum padre em relação ao seu papel na novela? 

MR - Já conversei com o maravilhoso padre Omar, que conheço no Rio de Janeiro. O personagem Miguel, aliás, tem muitos pontos de identificação com esse padre. Ele disse que está adorando a novela. Acredito, na verdade, que um bom padre não vai julgar um colega que se apaixonou e quer deixar a igreja por causa disso. Antes de serem padres, todos são homens e estão suscetíveis a se apaixonar. Tenho o exemplo da minha mãe, que é muito católica. No início da novela, ela torcia para que o Miguel e a Laura não se beijassem. Mas ela não sabia da virada da novela. O casal central geralmente só se encontra no final de um folhetim, mas em Desejo proibido isso já está acontecendo, o que é legal para a trama.   

P - Você vem de uma família católica. Sua relação com a religião mudou desde que passou a interpretar um padre?  

MR - Passei a respeitar muito mais as pessoas envolvidas com religião. Na preparação para fazer o Miguel, passei três dias em um mosteiro, que fica a 100 quilômetros de Curitiba. Lá vivem 25 monges e 11 deles já fizeram voto perpétuo, quer dizer, vão ficar lá para sempre. Eles oram, lêem e estudam muito. São bastante cultos. Noventa por cento das pessoas envolvidas com a igreja são maravilhosas, estão em missões na Amazônia, trabalhando com pessoas doentes. A Igreja Católica tem uma história fascinante, mas é comandada por homens e, por isso, cometeu erros como a Inquisição, que todo mundo gosta de enfatizar. O que não dá é para se prender a esses acontecimentos e generalizar. Mas como as pessoas têm uma tendência à maldade, enfatizam os problemas com padres pedófilos e coisas do tipo. 

P - Antes de Desejo proibido, seu último personagem de destaque foi o Dinho, de América. Você fez mais sucesso com as mulheres como um peão ou como um padre bonitão?
 
MR - Os personagens chamam a atenção de maneira diferente. Para aquelas bem... (pausa) "sem-vergoinhas", que adoram um desejo proibido, elas vão fantasiar com o padre. Ah, eu não vou falar isso (risos).

P - Já entendi que, se o padre for bonitão, ele chama mais a atenção...
MR - Chama a atenção, mas de um jeito diferente. O Dinho, de América, era um personagem totalmente aberto, não tinha proibições, falava o que queria e realizava suas fantasias com a Neuta, da Eliane Giardini. No caso do padre Miguel, ele não sabia o que é ter essa liberdade para viver um amor. É um cara puro, sem maldade. Às vezes, as pessoas fantasiam uma imagem sobre essa figura.

P - Acha que o Dinho foi um passo importante para você conquistar o seu primeiro protagonista em uma novela da Globo?

MR - Sem dúvida, esse personagem foi um marco na minha carreira. Não porque foi o meu melhor trabalho no sentido da interpretação, mas porque foi a única novela das oito que fiz. Horário nobre é uma outra história, um outro tipo de repercussão. E o destino também me ajudou. Estava bem preparado, como me preparo para todos os personagens. Meu par romântico seria a Gabriela Duarte, mas ela acabou ficando com o Tião, personagem do Murilo Benício. Como havia uma história de gracinhas com a viúva Neuta, pensei: "vou investir minhas fichas nessa trama". O casal aconteceu e virou uma loucura. Acho que o Dinho tinha todos os ingredientes que uma mulher sonha. Era um cara fiel, apaixonado, bem-humorado, viril e cheio de desejos. Lembro-me que em um jantar, encontrei o Manoel Carlos e ele me disse: "esse é o tipo de sucesso que poucos atores fazem poucas vezes na vida".   

P - O casamento com a modelo Fernanda Tavares e o nascimento de seu filho Lucas interferem nessa sua opinião?  

MR - Com certeza. Atingi a felicidade máxima na minha vida pessoal e, profissionalmente, estou fazendo uma novela bonita na melhor emissora da América Latina. Não ignoro tudo isso. Na minha vida, eu quero cuidar da minha família e fazer bons trabalhos.

***

Um passo de cada vez 

Murilo Rosa não conheceu o sucesso logo de cara. Muito pelo contrário. O próprio ator brinca com sua estréia na tevê. Foi em 1994, na novela 74.7 uma onda no ar, da extinta TV Manchete. "Acho que só meus pais, minha tia e alguns amigos assistiam. Tinha um ou dois pontos de audiência", recorda. Em seguida, veio Antonio Alves, taxista, no SBT. Outra produção que não foi nenhum estrondo. "Mas foi quando comecei a receber alguns elogios", ressalva.

O cenário melhorou bem com Xica da Silva, também da Manchete, um folhetim de razoável sucesso. Murilo interpretava o protagonista jovem da trama, Martim. "Foi aí que dei o meu grande passo. Meu trabalho subiu um degrau", avalia. E a carreira não desandou mais. Ele ganhou mais outro papel importante em Mandacaru e não demorou a ser chamado por Jayme Monjardim para interpretar um personagem na segunda fase da minissérie Chiquinha Gonzaga, de 1999. Desde que fez esse trabalho, nunca mais deixou a Globo, emissora com a qual tem contrato até 2011. "Sem falsa modéstia, tenho uma carreira muito bem construída", enfatiza o ator que, um dia, estudou educação física em Brasília e sonhava em ser atleta. 

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